O Dramaturgo Nelson Rodrigues (parafraseado no título deste post) tem uma frase muito boa que é mais ou menos assim: “Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém”.

O tema que vou tratar hoje é polêmico, eu sei, e ninguém precisa concordar com as minhas opiniões. Não vou aqui levantar nenhuma bandeira, movimento, etc. Vou apenas expor a maneira como vejo uma situação. De cara, já vou avisando: sou heterossexual, e me orgulho muito dos amigos e amigas homossexuais e heterossexuais que possuo. São seres humanos maravilhosos. Amo a todos sem distinção.

Costumo definir a questão da Homofobia da seguinte maneira: As pessoas incomodam-se demais com a vida alheia, e esquecem de ser felizes vivendo suas próprias vidas.

Estou cada vez mais convicto de que no mundo atual não há espaço para intolerância de qualquer tipo. Apesar de eu mesmo ser intolerante algumas vezes, pois não suporto gente mal educada e ignorante. Mas luto todos os dias para aceitar e compreender a realidade de cada um.

Imagem de uma das capas da Revista Trip de Outubro


Não dá pra fugir da discussão sobre a homofobia, está em todos os lugares. Nas capas da corajosa edição da Trip deste mês (isso mesmo são duas capas), está na TV (a famosa cena do beijo entre Luciana Vendramini e Giselle Tigre, na novela do SBT), nos jornais (infelizmente com mais freqüência nas páginas policiais), no Congresso Nacional, nas ruas, na boca de todo mundo. A discussão já é longa e ganha cada vez mais força. Não tenho utopia de que todas as mentes do planeta mudem, seria bobagem e inocência minha alimentar tal quimera.

Diversidade sexual. Mais do que um tema, título, rótulo, como você queira chamar, o importante é entender que trata-se da discussão da definição do que somos. Nunca gostei de rótulos e divisões, bem e mau, brancos e negros, católicos e protestantes, gordos e magros, feios e bonitos. Somos todos humanos, e ainda bem que cada um de nós é único. As diferenças existem e continuarão existindo. Há um certo narcisismo psicológico inconsciente exemplificado pelo medo do diferente.

O que importa mesmo nessa história é a real capacidade de cada um concentrar-se no seu universo, pensar naquilo que importa para si e para a realização de sua felicidade. A vida do outro e principalmente quando, como, onde e com quem faz sexo, amor, transa, trepa, furunfa, amassa o bombril, acasala, molha o biscoito, troca o óleo, cola o velcro, dá marcha a ré, etc., é um detalhe que não interessa. Não muda em nada a competência do seu chefe, do colega de trabalho, da professora do seu filho, do guarda da esquina, do médico que cuida das suas enfermidades. Ponto. Cada um tem o direito de ser e fazer o que quiser. O corpo é dele (ou dela). Cada um deve viver sua própria vida, reitero.

As relações humanas são imperfeitas, o ser humano é imperfeito. E como disse Jack Endino: “Não tente ficar perfeito. A perfeição é chata”.

Não faça com os outros, o que você não quer que seja feito com você.

A imbecilidade, aliada à pura e simples falta do que fazer gera trogloditas que ignoram o significado de Antropologia e Sociologia, e o fato de que ambas são pura e simplesmente construídas na prática cotidiana, assim como o idioma, que mais do que escrito, é falado, com suas imperfeições coloquiais, dialetos, gírias e corruptelas, a sociedade, da mesma forma, é constituída por indivíduos distintos, com gostos, hábitos, desejos, ambições e formas de amar as mais diversas.

Lembro o caso dos playboys que espancaram uma doméstica em um ponto de ônibus do Rio de Janeiro. A “justificativa” dos criminosos: “Pensávamos que fosse uma puta.” E se fosse uma puta! Que diferença teria? Seria um ser humano da mesma forma. Com direito a viver da forma como escolher. Vou repetir, o grande problema é que as pessoas vivem querendo controlar a vida do outro. O falso moralismo é uma merda.

O Bolsonaro, Crivella e congêneres têm todo o direito de pensar o que quiserem e de assumirem publicamente suas posições, o que eles não têm é direito de incitar a violência e fazer apologia da discriminação e depois ficar se escondendo atrás de imunidades parlamentares e garantias constitucionais que os mesmos violam.

A hipocrisia, a intolerância e o “politicamente correto” Made In Brazil jamais permitiriam que alguém ousasse sair às ruas com uma camiseta escrita “100% branco”, “100% ladrão”, “100% demagogo”, “100% preconceituoso”, “100% puta”, “100% gay”. A questão é maior do que cada um afirmar-se e ter orgulho de si. É entender que o outro é diferente e tem o direito de sê-lo. Ponto.

Passei boa parte da minha infância com quatro primas (de quem muito me orgulho), pobres, negras, de paternidade não assumida, em uma sociedade moralista e preconceituosa, meus olhos vêm as diferenças e o preconceito desde cedo. A humanidade é imbecil e ignorante, tal e qual registrada em Beleza Americana (American Beauty – 1999 – Direção de Sam Mendes).

Máquinas não fazem distinção entre branco, negro, azul, amarelo, romano, grego, troiano, hétero, homo, cristão, umbandista, budista, ou hindu. A urna eletrônica computa da mesma forma os votos de quem elege o candidato de esquerda, centro ou direita, independente de com quem o eleitor vai pra cama, e o que faz nela.

Campanha criada por Oliviero Toscani para a Benetton nos anos 90

Onipotência, onipresença e onisciência versus Liberté, égalité, fraternité.

Não existe nada mais chato do que alguém tentando catequizar os outros, qualquer que seja a causa ou credo defendido. O pensamento é livre, cada um tem o seu, e felizmente não precisamos pagar pra pensar.

O mundo cristão-judaico, com seus dogmas, centralização do poder, autoproclamado como dono da verdade, contribuiu muito para o cenário atual. Não vejo muita diferença entre o modo de pensar de Hitler, do Papa e Pastores Evangélicos. Há alguns anos, em uma conversa com um cidadão protestante falei: Ainda bem que sua ignorância não é contagiosa.

Afinal, seria coerente uma nova inquisição para lançar na fogueira os padres envolvidos em Pedofilia? Em resumo, o Cristianismo não tem moral para falar de amor ao semelhante depois de perseguir e matar milhões na Idade Média, como o fizeram os Nazistas na Segunda Guerra.

Algumas obras para quem quer refletir, abrir a mente, e quem sabe evoluir:

Livros:

A Filosofia na Alcova – Marquês de Sade

Videoclipes:

MadonnaLike A Prayer,Justify My Love e Erotica

MobyWe Are All Made Of Stars

Pearl Jam – “Do The Evolution

Fimes:

Gummo (Vidas Sem Destino – 1997 – Direção de Harmony Korine)

Beleza Americana (American Beauty – 1999 – Direção de Sam Mendes)

O Nome da Rosa (Der Name der Rose – 1986 – Direção de Jean-Jacques Annaud)

A Cor Púrpura (The Color Purple – 1985 – Direção de Steven Spielberg)

Tudo o que defendo é respeito ao próximo. Independente do credo, da cor, e principalmente da orientação sexual. Liberdade. Viva e deixe viver.

Para encerrar, deixo vocês com uma música da Laura Finocchiaro, gravada pelo Cazuza no disco Burguesia que resume meu pensamento.

Não deixe de comentar, compartilhar, participar. Um grande abraço e até a próxima semana.

Tudo é Amor

(Cazuza / Laura Finocchiaro)

Um homem pode se afobar
E pegar o caminho errado
Homem que é homem volta atrás
Mas não se arrepende de nada
Sabe que a vida é pra lutar
Contra um dragão invisível
Que mata os sonhos mais banais
Que acha que é tudo impossível

Um homem que veio do pó
É o que transforma o pó em ouro
Um homem foi criado só
Mas vive em função do outro
Na natureza onde ele é rei
No universo onde não é nada
Na incerteza e no prazer
Na ilusão de ser amado

Tudo é amor
Mesmo se for por carma
Tudo é amor
Pretensão descarada

Um homem nasce pra cagar
Nas regras desse paraíso
Um homem deve procurar
A fruta que foi proibida
No meio dessa multidão
Na escuridão e na agonia
Poder chamar alguém de irmão
E ter um sono bem tranqüilo

Tudo é amor
Mesmo se for por carma
Tudo é amor
Pretensão descarada

Um homem nasce pra brincar
E não pra esculhambar a vida
Um homem nasce pra curar
E cutucar a ferida
Mesmo se for pra transformar
Num inferno um céu conformista
Mesmo se for pra guerrear
Escolha as armas mais bonitas